Há algum tempo eu encontrei na internet e ontem, preparando uma aula, tive oportunidade de reler um interessante artigo sobre Kant. Curiosamente, após a "garimpagem virtual" (e como tem lixo na net!!!), que me conduziu a este texto, descobri que ele foi escrito pelo meu amigo e co-autor deste Blog, o Marcos Euzebio.
Trata-se de uma ótima síntese sobre os conceitos fundamentais da moral kantiana, entendida sobretudo a partir da obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Para acessar o texto, clique aqui.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Vendendo o próprio peixe...
Aproveito o espaço do Blog para divulgar o livro Filosofia e Modernidade: reflexão sobre o conhecimento , que organizei juntamente com a profa. Suze Piza. O livro reune textos de professores de filosofia da Metodista, que propõem-se a refletir a questão do conhecimento a partir de um autor ou conjunto de autores que normalmente utiliza como referência em suas próprias aulas.
Para mais informações, entrar em contato comigo ou com a Editora (editora@metodista.br).
Para mais informações, entrar em contato comigo ou com a Editora (editora@metodista.br).
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Tradição da agressão
Michel Foucault mostra em diversas de suas obras como é tradição da sociedade ocidental agredir, de diversas formas, os diferentes. Criar manicômios e presídios, como muros altos e sob forma de depósito-de-gente-indesejável, são algumas das mais comuns maneiras que a nossa sociedade utiliza para "tirar do raio de visão" dos cidadãos de bem (entenda-se: da mediocridade social) aqueles e aquelas que nos fazem lembrar que não está tudo bem em nossa sociedade.
Esse tipo de estratégia, de esconder o fracasso social, tem sido parte de nossa cultura. É, acredito, um dos motivadores dos fatos descritos nesta matéria, publicada no jornal Diário do Grande ABC.
Para quem quiser buscar em Foucault mais explicações sobre, sugiro "Vigiar e punir", sobre as prisões; e "A história da loucura".
-*-*-*-*-*-*
Pais dizem agredir filhos deficientes
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
--------------------- Crianças portadoras de deficiência mental correm mais risco de sofrer maus-tratos praticados pelos pais. A taxa de agressões chega a ser dez vezes maior, segundo revela o psicólogo e especialista em violência infantil Paulo Pinto Alexandre.
Pesquisa realizada em clínica particular da região – que não pode ser identificada, condição pré-estabelecida pela clínica para que a pesquisa fosse realizada – revela que 72,7% dos 132 pais entrevistados assumem que apelam para punições físicas ou psicológicas no convívio com filhos especiais. Desse total, 12,1% praticam agressões consideradas graves, como queimaduras (com água quente ou ponta de cigarro) e surras.
Os resultados foram obtidos mediante questionários aplicados a pais e a mães que cuidam de crianças de zero a 12 anos com qualquer tipo de deficiência mental.
A condição de saúde torna a criança ainda mais dependente, principalmente da mãe, figura constante e, na maioria das vezes, responsável pela criação. Mas, apesar dos laços maternos, é a mulher que mais agride.
“As mães representam 88% dos nossos entrevistados. Elas estão sempre por perto e, independente da idade ou classe social, apelam mais aos castigos físicos, leves ou graves”, diz o pesquisador do Mackenzie, Paulo Pinto Alexandre.
Os meninos tendem a apanhar mais que as meninas e de forma constante. A agressão é justificada como tentativa de educar, à força e sob ameaças psicológicas.
“A constatação obtida por meio dos questionários é surpreendente. O índice de punições físicas graves é muito alto. Sinal de que é preciso trabalhar melhor os pais. Para impedir a violência é necessário incentivar e treinar o diálogo familiar.”
A instituição que cuida da saúde e da educação das crianças é parte essencial no projeto, segundo o psicólogo e autor da pesquisa. “Os tratamentos são feitos por três dias da semana. O contato entre pacientes, familiares e profissionais é grande e importante, até para que haja denúncias, se necessário, aos órgãos competentes. Agressão contra menor é crime”, completa.
A clínica pesquisada receberá uma cópia dos resultados para trabalhos internos.
Pais que apanharam na infância tendem a bater em crianças
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
Pais que sofrem violência na infância tendem a praticar agressões contra os filhos, saudáveis ou com qualquer tipo de deficiência física e mental. É a chamada reprodução de comportamento, que funciona como um círculo vicioso nos lares brasileiros.
Apesar de hereditária, a violência sofre alterações de geração para geração. A pesquisa realizada com pais e mães de crianças especiais revela também que os tipos de agressões usadas mudam.
“Cerca de 53% dos entrevistados, por exemplo, afirmam que apanhavam de cinta, quando crianças. Outros eram agredidos com cabos de vassoura, chicotes e correias de máquinas de costura”, diz o psicólogo Paulo Pinto Alexandre. Hoje, a violência inclui queimaduras, espancamentos, sufocamentos e ameaças com armas de fogo.
AMOR
Mas a realidade evidenciada em estudo pode ser transformada na prática. Felizmente, nem todos os responsáveis por crianças ou mesmo adultos com deficiência mental usam de violência. Na casa da família Brito, de Santo André, as dificuldades foram superadas com amor.
“Meu filho completou um ano de vida internado no hospital. Ele teve convulsões e sofreu três paradas cardíacas. Por Deus sobreviveu e hoje trabalha e namora. Está com 26 anos e ainda é criado embaixo da saia da mãe”, conta o pai Jayr Pereira Brito, 66 anos.
Para o aposentado, pais que agridem filhos com deficiência são covardes e não sentem amor. “O Kléber tem deficiência mental leve, causada por falta de oxigênio no cérebro, mas é uma bênção para nós. Temos outros dois filhos e todos são tratados da mesma maneira.” Jayr nunca foi agredido pelos pais na infância.
Esse tipo de estratégia, de esconder o fracasso social, tem sido parte de nossa cultura. É, acredito, um dos motivadores dos fatos descritos nesta matéria, publicada no jornal Diário do Grande ABC.
Para quem quiser buscar em Foucault mais explicações sobre, sugiro "Vigiar e punir", sobre as prisões; e "A história da loucura".
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Pais dizem agredir filhos deficientes
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
--------------------- Crianças portadoras de deficiência mental correm mais risco de sofrer maus-tratos praticados pelos pais. A taxa de agressões chega a ser dez vezes maior, segundo revela o psicólogo e especialista em violência infantil Paulo Pinto Alexandre.
Pesquisa realizada em clínica particular da região – que não pode ser identificada, condição pré-estabelecida pela clínica para que a pesquisa fosse realizada – revela que 72,7% dos 132 pais entrevistados assumem que apelam para punições físicas ou psicológicas no convívio com filhos especiais. Desse total, 12,1% praticam agressões consideradas graves, como queimaduras (com água quente ou ponta de cigarro) e surras.
Os resultados foram obtidos mediante questionários aplicados a pais e a mães que cuidam de crianças de zero a 12 anos com qualquer tipo de deficiência mental.
A condição de saúde torna a criança ainda mais dependente, principalmente da mãe, figura constante e, na maioria das vezes, responsável pela criação. Mas, apesar dos laços maternos, é a mulher que mais agride.
“As mães representam 88% dos nossos entrevistados. Elas estão sempre por perto e, independente da idade ou classe social, apelam mais aos castigos físicos, leves ou graves”, diz o pesquisador do Mackenzie, Paulo Pinto Alexandre.
Os meninos tendem a apanhar mais que as meninas e de forma constante. A agressão é justificada como tentativa de educar, à força e sob ameaças psicológicas.
“A constatação obtida por meio dos questionários é surpreendente. O índice de punições físicas graves é muito alto. Sinal de que é preciso trabalhar melhor os pais. Para impedir a violência é necessário incentivar e treinar o diálogo familiar.”
A instituição que cuida da saúde e da educação das crianças é parte essencial no projeto, segundo o psicólogo e autor da pesquisa. “Os tratamentos são feitos por três dias da semana. O contato entre pacientes, familiares e profissionais é grande e importante, até para que haja denúncias, se necessário, aos órgãos competentes. Agressão contra menor é crime”, completa.
A clínica pesquisada receberá uma cópia dos resultados para trabalhos internos.
Pais que apanharam na infância tendem a bater em crianças
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
Pais que sofrem violência na infância tendem a praticar agressões contra os filhos, saudáveis ou com qualquer tipo de deficiência física e mental. É a chamada reprodução de comportamento, que funciona como um círculo vicioso nos lares brasileiros.
Apesar de hereditária, a violência sofre alterações de geração para geração. A pesquisa realizada com pais e mães de crianças especiais revela também que os tipos de agressões usadas mudam.
“Cerca de 53% dos entrevistados, por exemplo, afirmam que apanhavam de cinta, quando crianças. Outros eram agredidos com cabos de vassoura, chicotes e correias de máquinas de costura”, diz o psicólogo Paulo Pinto Alexandre. Hoje, a violência inclui queimaduras, espancamentos, sufocamentos e ameaças com armas de fogo.
AMOR
Mas a realidade evidenciada em estudo pode ser transformada na prática. Felizmente, nem todos os responsáveis por crianças ou mesmo adultos com deficiência mental usam de violência. Na casa da família Brito, de Santo André, as dificuldades foram superadas com amor.
“Meu filho completou um ano de vida internado no hospital. Ele teve convulsões e sofreu três paradas cardíacas. Por Deus sobreviveu e hoje trabalha e namora. Está com 26 anos e ainda é criado embaixo da saia da mãe”, conta o pai Jayr Pereira Brito, 66 anos.
Para o aposentado, pais que agridem filhos com deficiência são covardes e não sentem amor. “O Kléber tem deficiência mental leve, causada por falta de oxigênio no cérebro, mas é uma bênção para nós. Temos outros dois filhos e todos são tratados da mesma maneira.” Jayr nunca foi agredido pelos pais na infância.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Freud
A Psicanálise e a Filosofia; a Psicanálise é Filosofia; Psicanálise da Filosofia; Filosofia da Psicanálise; a Filosofia como Psicanálise... No vídeo, Freud fala sobre sua criação.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
A Igreja do Diabo...
O discurso consumista, assumido como revelação, parece ser o credo do homem de hoje. E talvez a propaganda seja a teologia militante de nosso tempo, ansiosa por manter os fiéis convencidos da "naturalidade" de sua dogmática.
O artigo de Gilberto Dupas nos dá motivos para refletir sobre isso.
ÉTICA E PROPAGANDA
GILBERTO DUPAS
(Folha de São Paulo - 28/01/08)
Na ordem econômica atual, que tem garantido vitalidade à lógica da acumulação capitalista, a função da propaganda é criar continuamente novos objetos de desejo. Sendo assim, faz sentido cobrar ética da propaganda? Vamos examinar exemplos concretos. O mais recente confronto entre privacidade e propaganda envolve alguns provedores de internet, agora incluindo serviço telefônico gratuito, que exigem o direito de invadir em tempo real todo o conteúdo da comunicação com anúncios de produtos e serviços que têm a ver com o assunto da interlocução. Ou seja, joga-se no lixo o sigilo da comunicação em troca de propaganda. Eis a justificativa de uma das empresas líderes do ramo: "Nós percebemos que, enquanto falam ao telefone, as pessoas fazem alguma coisa a mais. Decidimos usar isso". E arremata: "Trocar mais personalização com menos privacidade é um conceito aceito no mundo atual". Quanto à violação do sigilo, diz: "Não estamos fazendo nada mais que aquilo que grandes provedores fazem com e-mails". Um executivo de uma das maiores agências de propaganda do mundo diz: "Reconheço que estamos ficando mais intrusivos a cada avanço tecnológico. Mas adoraria poder pôr minhas mãos nos dados de conversas". O sistema está pronto para ser implantado em telefones celulares. Outro exemplo é a recente propaganda de lançamento de veículo relacionando acessórios sofisticados que o acompanham. O último da lista: "Loira siliconada no banco de passageiro". E a provocação: "Não quer mais nada não, né?". Outra montadora, em amplas páginas coloridas de revistas e jornais de grande circulação, mostra uma mansão protegida por bela vegetação. Nas páginas duplas seguintes, ela foi destruída por uma tesoura de jardineiro e o buraco exibe o novo modelo de um utilitário de luxo com a legenda: "Você vai fazer tudo para exibir o seu!". Valores? Loira siliconada e destruição da natureza. Mais outro. Grande banco exibe enorme anúncio em que aparece uma linda menininha de dois anos. Ela acaba de rabiscar uma nobre parede de madeira com desenhos infantis e a logomarca da empresa. Mensagem: "Você sabe do que vai precisar amanhã? Fique tranqüilo. Nosso banco já está pensando nisso hoje". Valores? Um clientezinho seduzido. Finalmente, uma das líderes globais em produtos de superluxo publica, em páginas inteiras nas principais revistas e jornais do mundo, enorme propaganda com Mikhail Gorbatchov, o controvertido líder que apressou a queda do império soviético, sentado no banco de trás de uma limusine, que tem ao fundo o muro de Berlim. Ao lado de Gorbatchov, uma elegantíssima sacola de viagem da grife.
O artigo de Gilberto Dupas nos dá motivos para refletir sobre isso.
ÉTICA E PROPAGANDA
GILBERTO DUPAS
(Folha de São Paulo - 28/01/08)
Na ordem econômica atual, que tem garantido vitalidade à lógica da acumulação capitalista, a função da propaganda é criar continuamente novos objetos de desejo. Sendo assim, faz sentido cobrar ética da propaganda? Vamos examinar exemplos concretos. O mais recente confronto entre privacidade e propaganda envolve alguns provedores de internet, agora incluindo serviço telefônico gratuito, que exigem o direito de invadir em tempo real todo o conteúdo da comunicação com anúncios de produtos e serviços que têm a ver com o assunto da interlocução. Ou seja, joga-se no lixo o sigilo da comunicação em troca de propaganda. Eis a justificativa de uma das empresas líderes do ramo: "Nós percebemos que, enquanto falam ao telefone, as pessoas fazem alguma coisa a mais. Decidimos usar isso". E arremata: "Trocar mais personalização com menos privacidade é um conceito aceito no mundo atual". Quanto à violação do sigilo, diz: "Não estamos fazendo nada mais que aquilo que grandes provedores fazem com e-mails". Um executivo de uma das maiores agências de propaganda do mundo diz: "Reconheço que estamos ficando mais intrusivos a cada avanço tecnológico. Mas adoraria poder pôr minhas mãos nos dados de conversas". O sistema está pronto para ser implantado em telefones celulares. Outro exemplo é a recente propaganda de lançamento de veículo relacionando acessórios sofisticados que o acompanham. O último da lista: "Loira siliconada no banco de passageiro". E a provocação: "Não quer mais nada não, né?". Outra montadora, em amplas páginas coloridas de revistas e jornais de grande circulação, mostra uma mansão protegida por bela vegetação. Nas páginas duplas seguintes, ela foi destruída por uma tesoura de jardineiro e o buraco exibe o novo modelo de um utilitário de luxo com a legenda: "Você vai fazer tudo para exibir o seu!". Valores? Loira siliconada e destruição da natureza. Mais outro. Grande banco exibe enorme anúncio em que aparece uma linda menininha de dois anos. Ela acaba de rabiscar uma nobre parede de madeira com desenhos infantis e a logomarca da empresa. Mensagem: "Você sabe do que vai precisar amanhã? Fique tranqüilo. Nosso banco já está pensando nisso hoje". Valores? Um clientezinho seduzido. Finalmente, uma das líderes globais em produtos de superluxo publica, em páginas inteiras nas principais revistas e jornais do mundo, enorme propaganda com Mikhail Gorbatchov, o controvertido líder que apressou a queda do império soviético, sentado no banco de trás de uma limusine, que tem ao fundo o muro de Berlim. Ao lado de Gorbatchov, uma elegantíssima sacola de viagem da grife.
A imagem é feita pela famosa Annie Leibovitz. Entrevistado, um dos donos da marca, que pediu fotos semelhantes com Catherine Deneuve e outros famosos, explica: "Foi uma escolha natural. Queríamos uma personalidade que viveu uma vida plena e mudou as coisas no mundo". "Ficamos espantados quando Gorbartchov aceitou fazê-la com tanta satisfação", arrematou. E concluiu, candidamente: "Todos aspiramos a algo melhor. Alguns podem se oferecer isso já outros, não podendo obtê-lo agora, vão sonhar com isso e conseguir realizar seu desejo mais cedo ou mais tarde". Desnecessário dizer mais qualquer coisa sobre a propaganda como construção de objetos de desejo. Essa mesma grife havia colocado, meses antes, imenso outdoor com foto de sua mala de viagem cobrindo toda uma fachada em Xangai. Um fotógrafo clicou-a enquanto um chinês muito pobre passava carregando nos ombros, qual canga de boi, duas pesadas latas dágua. Estamos destruindo um esquema de valores que, bem ou mal, punha algum limite entre o interesse público e a ganância privada. Para onde caminhamos? Uma pista é um novo lançamento residencial no distrito financeiro de Manhattan. As paredes do edifício, todas de vidro, permitem que seus moradores se vejam na intimidade e sejam vistos, eventualmente sem restrição, por pessoas da rua inclusive no banheiro, um cubo de vidro. A propaganda, na voz do arquiteto: "Estamos criando palcos para as pessoas de certa maneira atuarem". Para Sherry Turkle, do MIT, quando levantamos os olhos das telas de plasma dos computadores, só encontramos solidão. Trata-se, no caso, de um desejo desesperado de intimidade que a propaganda manipula, confundindo exibicionismo com aproximação. Enfim, ética supõe valores. Quais são os valores da propaganda?
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Na terra do carnaval...
Reproduzo matéria publicada na Folha de São Paulo de hoje. Dispensa comentários.
29% dos alunos de 2ª série da prefeitura não sabem o que lêem
Prova aplicada em novembro mostra que 29% deles não conseguem responder a questões de português e matemática
Na 4ª série, 26,9% também tiveram dificuldades; para prefeitura, "a situação ainda é ruim", mas melhor do que a esperada
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO SANGIOVANNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma prova aplicada nas escolas municipais de São Paulo em novembro apontou que cerca de 29% dos alunos da segunda série do ensino fundamental estão com um nível de aprendizado crítico. Não conseguiram nem responder às questões de português e matemática.
Na prática, segundo relatório da própria Secretaria de Educação, ao ler um documento, esses alunos não são capazes de identificar, por exemplo, que se trata de uma conta de água. Têm também dificuldades para entender o contexto de uma história em quadrinhos.
Os resultados da Prova São Paulo mostram também que boa parte dos alunos da quarta série (26,9%) também está muito abaixo do esperado para sua etapa de ensino.
O desempenho dos alunos da 8ª série foi um pouco mais animador. Na comparação com prova semelhante aplicada em 2005, os alunos paulistanos conseguiram notas melhores (226,5 pontos para 241). A média nacional é 221,87.
Na segunda série, dos 29,7% que ficaram no chamado patamar crítico, 14,6% são considerados "não-alfabéticos". Ou seja, ainda não têm idéia de como funciona a língua portuguesa.
Em São Paulo, os alunos da segunda série não são reprovados por conta da progressão continuada. Eles só podem ser retidos a partir da quarta série.
O secretário de Educação, Alexandre Schneider, que divulgou ontem os dados ao lado do prefeito Gilberto Kassab (DEM), afirma que a "a situação ainda é ruim", mas melhor do que esperava.
Segundo ele, um exame feito na rede por amostragem em 2005 revelou números piores -a taxa de não-alfabéticos estava na casa dos 30%.
"Tenho convicção de que as políticas adotadas deram base para que haja um salto de qualidade em breve", afirmou.
No evento, Kassab fez um balanço otimista dos resultados. Disse que os resultados foram "bem positivos", pois "mostra que avançamos em qualidade".
A prefeitura afirma que os alunos que estão em situação crítica terão um programa de reforço especial, com materiais didáticos específicos e treinamento de professores.
Educadores, porém, afirmam que isso não é suficiente e que faltam investimentos na infra-estrutura, principalmente para diminuir o número de alunos em salas de aulas.
"A Unesco diz que um professor dá conta, no máximo, de 25 alunos. A secretaria vem e coloca 40 em uma sala de aula. Depois faz uma provinha e vai ver se aprendeu. Claro que não aprendeu", afirmou o professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Paro. A prefeitura diz que vai melhorar a parte física da rede.
Melhora
A Prova São Paulo (que analisou também quarta, sexta e oitava séries) foi ajustada para ser comparada à Prova Brasil, exame do governo federal, cuja primeira edição foi aplicada em 2005 na 4ª e na 8ª séries.
No intervalo analisado (2005 a 2007), não houve mudanças significativas na 4ª série. Já na 8ª, São Paulo subiu de 226,5 pontos para 241 (variação de 14,5 pontos) em leitura. Schneider, porém, foi comedido ao comentar a variação.
Segundo ele, pode ter havido pequenas diferenças na aplicação das provas, o que refletiria nos resultados. "Ainda estamos analisando. Seria desonesto dizer que tenho certeza de que demos um salto tão grande em tão pouco tempo", afirmou.
Schneider diz que outros programas, além do reforço, irão trazer benefícios para a rede. Ele cita, por exemplo, a própria prova, que fornecerá às escolas os resultados de cada aluno -os outros exames do gênero mostram o desempenho só da escola como um todo.
A secretaria não divulgou os desempenhos das escolas nem das regiões da cidade. Disse que se comprometeu com a rede a não fazer rankings.
29% dos alunos de 2ª série da prefeitura não sabem o que lêem
Prova aplicada em novembro mostra que 29% deles não conseguem responder a questões de português e matemática
Na 4ª série, 26,9% também tiveram dificuldades; para prefeitura, "a situação ainda é ruim", mas melhor do que a esperada
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO SANGIOVANNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma prova aplicada nas escolas municipais de São Paulo em novembro apontou que cerca de 29% dos alunos da segunda série do ensino fundamental estão com um nível de aprendizado crítico. Não conseguiram nem responder às questões de português e matemática.
Na prática, segundo relatório da própria Secretaria de Educação, ao ler um documento, esses alunos não são capazes de identificar, por exemplo, que se trata de uma conta de água. Têm também dificuldades para entender o contexto de uma história em quadrinhos.
Os resultados da Prova São Paulo mostram também que boa parte dos alunos da quarta série (26,9%) também está muito abaixo do esperado para sua etapa de ensino.
O desempenho dos alunos da 8ª série foi um pouco mais animador. Na comparação com prova semelhante aplicada em 2005, os alunos paulistanos conseguiram notas melhores (226,5 pontos para 241). A média nacional é 221,87.
Na segunda série, dos 29,7% que ficaram no chamado patamar crítico, 14,6% são considerados "não-alfabéticos". Ou seja, ainda não têm idéia de como funciona a língua portuguesa.
Em São Paulo, os alunos da segunda série não são reprovados por conta da progressão continuada. Eles só podem ser retidos a partir da quarta série.
O secretário de Educação, Alexandre Schneider, que divulgou ontem os dados ao lado do prefeito Gilberto Kassab (DEM), afirma que a "a situação ainda é ruim", mas melhor do que esperava.
Segundo ele, um exame feito na rede por amostragem em 2005 revelou números piores -a taxa de não-alfabéticos estava na casa dos 30%.
"Tenho convicção de que as políticas adotadas deram base para que haja um salto de qualidade em breve", afirmou.
No evento, Kassab fez um balanço otimista dos resultados. Disse que os resultados foram "bem positivos", pois "mostra que avançamos em qualidade".
A prefeitura afirma que os alunos que estão em situação crítica terão um programa de reforço especial, com materiais didáticos específicos e treinamento de professores.
Educadores, porém, afirmam que isso não é suficiente e que faltam investimentos na infra-estrutura, principalmente para diminuir o número de alunos em salas de aulas.
"A Unesco diz que um professor dá conta, no máximo, de 25 alunos. A secretaria vem e coloca 40 em uma sala de aula. Depois faz uma provinha e vai ver se aprendeu. Claro que não aprendeu", afirmou o professor da Faculdade de Educação da USP, Vitor Paro. A prefeitura diz que vai melhorar a parte física da rede.
Melhora
A Prova São Paulo (que analisou também quarta, sexta e oitava séries) foi ajustada para ser comparada à Prova Brasil, exame do governo federal, cuja primeira edição foi aplicada em 2005 na 4ª e na 8ª séries.
No intervalo analisado (2005 a 2007), não houve mudanças significativas na 4ª série. Já na 8ª, São Paulo subiu de 226,5 pontos para 241 (variação de 14,5 pontos) em leitura. Schneider, porém, foi comedido ao comentar a variação.
Segundo ele, pode ter havido pequenas diferenças na aplicação das provas, o que refletiria nos resultados. "Ainda estamos analisando. Seria desonesto dizer que tenho certeza de que demos um salto tão grande em tão pouco tempo", afirmou.
Schneider diz que outros programas, além do reforço, irão trazer benefícios para a rede. Ele cita, por exemplo, a própria prova, que fornecerá às escolas os resultados de cada aluno -os outros exames do gênero mostram o desempenho só da escola como um todo.
A secretaria não divulgou os desempenhos das escolas nem das regiões da cidade. Disse que se comprometeu com a rede a não fazer rankings.
Vamos Conversar?
O texto de João Pereira Coutinho, publicado originalmente na Folha de São Paulo (15/01/08), tem muito a dizer àqueles que, como nós, acreditam que toda Filosofia, para ser digna do nome, precisa ser, também, um exercício de conversa, de diálogo.
VAMOS CONVERSAR?
João Pereira Coutinho
Não vale rir dos neandertais. Investigadores do Instituto Max Planck, em Berlim, descobriram recentemente que os nossos antepassados já conversavam entre si. O DNA não mente e o gene que controla os músculos necessários para o efeito permitia que os homens-macaco tivessem momentos de conversa nas suas cavernas.
A notícia só pode provocar inveja aos contemporâneos. Porque "conversa", no sentido verdadeiro do termo, é fenómeno que raramente se ouve ou vê. O caso é tão grave que o ensaísta Stephen Miller dedicou tratado específico ao tema. Chama-se "Conversation: A History of a Decli-ning Art" (Yale, 336 págs.). A tese está resumida no título: dos Gregos aos homens de hoje, a conversa, sempre presente, foi recuando da esfera pública e privada nos últimos dois séculos. Os nossos grunhidos seriam um insulto para a sofisticação dos neandertais.
Mas o que é uma "conversa"? A melhor forma de responder à questão é formular outra: o que é, no fundo, um bom "conversador"? Para Miller, existem cinco qualidades que, ao longo da história, foram reconhecidas como essenciais.
Para começar, o bom conversador não é apenas aquele que sabe falar; é, sobretudo, alguém que sabe ouvir, porque uma conversa não é uma sucessão de monólogos. A conversa é uma dança que vive do envolvimento dos dançantes. A melhor forma de não errar os passos é estar atento aos passos dos nossos pares.
Em segundo lugar, o bom conversador entende que a conversa não tem um fim determinado, exceto o seu próprio fim. A conversa vale pelo prazer que retiramos dela, não pela ambição utilitária de chegarmos a um ponto qualquer.
Em terceiro lugar, um bom conversador nunca fica na defensiva quando os seus argumentos são questionados. E por quê?
Quarto: porque o conversador tem sentido de humor. Mas um sentido de humor que não se confunde com a ambição cansativa de bombardear o interlocutor com sucessivas piadas: o humor é como certos condimentos gastronômicos. Deve ser usado com critério, caso contrário, enjoa.
O bom conversador não é apenas aquele que sabe falar; é, sobretudo, alguém que sabe ouvir.
E, naturalmente, o bom conversador é polido, sem ser efeminado. A rudeza raramente faz um bom conversador.
Cinco qualidades, enfim, que Miller vai relatando ao longo da história humana, para as concentrar no século 18. Lemos as páginas do livro e é difícil não sentir a distância que nos separa de Paris ou Londres no Século das Luzes. Em Londres, os clubes de cavalheiros, por onde deambulavam conversadores célebres como Samuel Johnson, Joshua Reynolds ou Erasmus Darwin (avô do famoso Charles), não permitiam apenas a conversa regular que civiliza o espírito; a conversa era também a base de descobertas científicas ou experiências literárias.
E, em Paris, os salões alçaram a arte da conversa a alturas inigualadas. Quando consultamos a "Encyclopedia", encontramos sob o tópico respectivo as três regras que competia às "salonnières" fazer cumprir: não ser demasiado entediante na conversa; discursar naturalmente e sem afetação; e, de preferência, alternar entre o frívolo e o sério.
Mas se o século 18 foi uma era de grandes conversadores, ele também revelou aqueles que acabariam por determinar o declínio dessa arte. E na história contada por Stephen Miller, é Jean-Jacques Rousseau quem ocupa lugar central: o homem que, abominando a cultura de salão, declarou guerra aos "artifícios" da sociedade. Para Rousseau, a sociedade comercial falsificara a natureza humana. Caberia aos homens regressar à sua "autenticidade" natural, o que implicava um afastamento da polidez própria da vida em comum.
A herança de Rousseau ainda hoje permanece entre nós. E permanece sob dois extremos. De um lado, acreditamos que a "autenticidade" basta como expressão de excelência e não existe escritor, artista, participante do "Big Brother" que não exerça genuinamente a sua própria genuinidade: o que interessa é "exprimir", e não "sublimar", um feito que normalmente termina numa gritaria de selvagens.
Mas a idéia de "autenticidade", quando não conduz ao ruído extremo, conduz ao silêncio extremo: se cada um obedece apenas à sua verdade interior, é impossível argumentar ou julgar a verdade interior de cada um. O pensamento politicamente correio é a besta que resume essa atitude.
E a conversa? Para o espírito do tempo, a conversa é coisa de neandertais. A nossa "autenticidade" ainda não nos permite estar ao nível dos macacos.
VAMOS CONVERSAR?
João Pereira Coutinho
Não vale rir dos neandertais. Investigadores do Instituto Max Planck, em Berlim, descobriram recentemente que os nossos antepassados já conversavam entre si. O DNA não mente e o gene que controla os músculos necessários para o efeito permitia que os homens-macaco tivessem momentos de conversa nas suas cavernas.
A notícia só pode provocar inveja aos contemporâneos. Porque "conversa", no sentido verdadeiro do termo, é fenómeno que raramente se ouve ou vê. O caso é tão grave que o ensaísta Stephen Miller dedicou tratado específico ao tema. Chama-se "Conversation: A History of a Decli-ning Art" (Yale, 336 págs.). A tese está resumida no título: dos Gregos aos homens de hoje, a conversa, sempre presente, foi recuando da esfera pública e privada nos últimos dois séculos. Os nossos grunhidos seriam um insulto para a sofisticação dos neandertais.
Mas o que é uma "conversa"? A melhor forma de responder à questão é formular outra: o que é, no fundo, um bom "conversador"? Para Miller, existem cinco qualidades que, ao longo da história, foram reconhecidas como essenciais.
Para começar, o bom conversador não é apenas aquele que sabe falar; é, sobretudo, alguém que sabe ouvir, porque uma conversa não é uma sucessão de monólogos. A conversa é uma dança que vive do envolvimento dos dançantes. A melhor forma de não errar os passos é estar atento aos passos dos nossos pares.
Em segundo lugar, o bom conversador entende que a conversa não tem um fim determinado, exceto o seu próprio fim. A conversa vale pelo prazer que retiramos dela, não pela ambição utilitária de chegarmos a um ponto qualquer.
Em terceiro lugar, um bom conversador nunca fica na defensiva quando os seus argumentos são questionados. E por quê?
Quarto: porque o conversador tem sentido de humor. Mas um sentido de humor que não se confunde com a ambição cansativa de bombardear o interlocutor com sucessivas piadas: o humor é como certos condimentos gastronômicos. Deve ser usado com critério, caso contrário, enjoa.
O bom conversador não é apenas aquele que sabe falar; é, sobretudo, alguém que sabe ouvir.
E, naturalmente, o bom conversador é polido, sem ser efeminado. A rudeza raramente faz um bom conversador.
Cinco qualidades, enfim, que Miller vai relatando ao longo da história humana, para as concentrar no século 18. Lemos as páginas do livro e é difícil não sentir a distância que nos separa de Paris ou Londres no Século das Luzes. Em Londres, os clubes de cavalheiros, por onde deambulavam conversadores célebres como Samuel Johnson, Joshua Reynolds ou Erasmus Darwin (avô do famoso Charles), não permitiam apenas a conversa regular que civiliza o espírito; a conversa era também a base de descobertas científicas ou experiências literárias.
E, em Paris, os salões alçaram a arte da conversa a alturas inigualadas. Quando consultamos a "Encyclopedia", encontramos sob o tópico respectivo as três regras que competia às "salonnières" fazer cumprir: não ser demasiado entediante na conversa; discursar naturalmente e sem afetação; e, de preferência, alternar entre o frívolo e o sério.
Mas se o século 18 foi uma era de grandes conversadores, ele também revelou aqueles que acabariam por determinar o declínio dessa arte. E na história contada por Stephen Miller, é Jean-Jacques Rousseau quem ocupa lugar central: o homem que, abominando a cultura de salão, declarou guerra aos "artifícios" da sociedade. Para Rousseau, a sociedade comercial falsificara a natureza humana. Caberia aos homens regressar à sua "autenticidade" natural, o que implicava um afastamento da polidez própria da vida em comum.
A herança de Rousseau ainda hoje permanece entre nós. E permanece sob dois extremos. De um lado, acreditamos que a "autenticidade" basta como expressão de excelência e não existe escritor, artista, participante do "Big Brother" que não exerça genuinamente a sua própria genuinidade: o que interessa é "exprimir", e não "sublimar", um feito que normalmente termina numa gritaria de selvagens.
Mas a idéia de "autenticidade", quando não conduz ao ruído extremo, conduz ao silêncio extremo: se cada um obedece apenas à sua verdade interior, é impossível argumentar ou julgar a verdade interior de cada um. O pensamento politicamente correio é a besta que resume essa atitude.
E a conversa? Para o espírito do tempo, a conversa é coisa de neandertais. A nossa "autenticidade" ainda não nos permite estar ao nível dos macacos.
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