quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Reprensar a educação

É sempre espantoso (no sentido filosófico) observar como somos capazes ver coisas diferentes em um mesmo objeto, dependendo do "lugar" de onde olhamos. Lembro-me de como eu via a Universidade quando era aluno - e me esforço por manter, ao menos em parte, aquele modo de olhar. Naqueles momentos, eu nem imaginava os imensos debates que se travam em seu interior, na tentativa de se estabelecer as bases para uma mudança mais significativa nos processo de ensino.

Questões simples, como a necessidade da Universidade ensinar (não é a universidade quem ensina, mas...) coisas efetivamente importantes à vida das pessoas que nelas aprendem - e, acredito, todos apendem quando circulam pela Universidade - são tratadas com extrema dificuldade, provavelmente em função de toda a tradição universitária consolidada ao longo de séculos.
Talvez por ser minha praia, vejo esta situação de forma ainda mais problemática quando lidamos com licenciaturas: muitas vezes a forma tradicional com que nós, professores, aprendemos é a forma como ensinamos os alunos que, em breve, estarão ensinando nas escolas de educação básica. E chegando neste nível, na educação básica, a diferença entre a tradição cristalizada e conteudista e a realidade vivida pelos estudantes se torna uma barreira muitas vezes impeditiva de se estabelecer a própria comunicação. É isso que vivi quando eu lecionava para o Ensino Médio, e também o que tenho ouvido nos relatos de muitos professores da educação básica: parece que o que os professores falam, não é entendido pelos alunos. Parece não, é!
Mas, por outro lado, não se pode negar o considerável acesso à informação de que dispõem os jovens de hoje. Internet, rádios e televisões, mídia impressa, publicidades diversas etc., etc., etc. Talvez (e isso é uma hipótese) o problema da educação não esteja tão centrado no despreparo dos estudantes, tal como eu tenho ouvido repetidamente ao longo dos últimos anos, mas numa falta de sintonia entre "ensinantes" e estudantes. Numa palavra, talvez falte romper os limites da tradição para ouvir o que o outro tem a dizer.

[Postagem originalmente publicada no blog Filosofia Cotidiana]

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Da série "Elocubrações..."

Filosofia barata ou da barata?


Diversão até a Morte

Como contribuição à discussão sobre como devemos definir, nos tempos de hoje, conceitos escorregadios como disciplina, liberdade, autonomia e formação, vai este texto de Postman (o título é meu):


Diversão até a Morte
Neil Postman

“Orwell temia que os livros fossem proibidos; Huxley tinha medo de que não houvesse razão alguma para proibi-los, porque ninguém pretenderia ler livro algum. Orwell temia que nos ocultassem a verdade; Huxley temia que a verdade se fundisse num mar de futilidades. Orwell temia que todos terminássemos num cativeiro permanente, enquanto que Huxley previa nossa degeneração numa total superficialidade. Ou seja, Orwell previa que marchando compassadamente e aprisionados, seríamos conduzidos ao ocaso, enquanto que Huxley estava convencido de que sozinhos, sem ajuda nenhuma, espontaneamente, dançaríamos até o precipício - com um sorrizinho idiota.”
(...)
“Sabido é que o mundo inteiro é um teatro. Mas que o mundo inteiro seja, além disso, uma tele-comédia, não deixa de causar surpresa, com exceção, é claro, de Aldous Huxley. Mas não nos enganemos: a televisão não se limita a ser meio de diversão, é toda uma filosofia em torno do discurso público, tão capaz de transformar toda uma cultura, como em seu tempo o foi a imprensa. Entre outros méritos a palavra impressa criou a moderna idéia de prosa, com a qual conferiu ao princípio de exposição pormenorizada uma autoridade antes não conhecida, na condução de assuntos públicos. A televisão, ao contrário, deprecia a exposição, por ser séria, conseqüente, racional e complexa. Em seu lugar, oferece uma nova modalidade de discurso público em virtude do qual tudo se faz acessível, simplista, concreto e, mais que tudo, divertido! A conseqüência disto é que os EUA seja a primeira cultura em perigo, literalmente, de caminhar divertindo-se, para a morte. E parece que, muitas partes do mundo têm ânsias febris de acompanhar-nos nesta nefasta aventura.”
(...)
“Existem, pois, dois caminhos para necrotizar o espírito de uma cultura. O primeiro, o de Orwell mostra como a própria cultura se converte em cárcere; o segundo, o de Huxley, deixa que a cultura degenere na piada, no teatro frívolo. Para nós é muito mais fácil perceber o primeiro processo e nos defender dele quando os muros se aproximam: dificilmente podemos permanecer indiferentes às vozes dos Sakharov, dos Timmermann, dos Walesa; e confrontados com o mar de adversidades nos armamos com o espírito de Luther, Milton, Bacon, Voltaire, Goethe ou Jefferson. No entanto o que acontece quando não se escuta grito de angústia nenhum? Quem empunha as armas contra uma avalanche de diversões? Com quem, quando e em que tom nos queixamos quando qualquer discurso sério se dissolve em riso dissimulado? Existe, acaso, algum antídoto para uma cultura em vias de, literalmente, morrer, de rir? Eu temo, senhoras e senhores, que neste assunto, nossos filósofos nos tenham deixado, até agora, desamparados.”

(Fragmentos do discurso na Feira do Livro de Frankfurt, em outubro de 1984. Neil Postman (1931-2003), foi professor na Universidade de Nova Iorque).

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Filosofia e Educação

Sábado passado ministrei um curso com o tema Ética e disciplina na sala de aulas, voltado especialmente para professores e professoras da rede pública de ensino. Foi a segunda vez em que repeti uma mesma estratégia: comecei o curso apresentando a visão de Kant sobre a disciplina necessária ao processo educativo, pautando-me em seu livro Sobre a pedagogia.
O modelo proposto por Kant supõe uma educação centrada na disciplina como elemento fundamental: se não houver disciplina, não há possibilidade de educação.
Ao expor as idéias kantianas sobre o assunto, perfeitamente adequadas ao seu tempo histórico, pude constatar uma vez mais que a escola atual ainda se pauta nos valores iluministas dos mil-e-setecentos. É incrível observar como ainda predomina na instituição escolar um modelo que prima pela imposição da disciplina como forma de controle.
Isso me faz lembrar uma piada muito contada nos meios filosóficos: dizem que um sujeito que vivia na Idade Média, certa vez, deparou-se com uma máquina do tempo e a utilizou para vir aos nossos dias, em pleno Século XXI. Contam que o sujeito ficou aterrorizado ao ver o trânsito e os imensos prédios, e correu para uma igreja; lá, encontrou uma celebração carismática (coisa que levaria alguém à fogueira na era medieval!) e correu desesperadamente, buscando encontrar algo que não lhe parecesse absurdo. Então entrou numa escola e pensou: "finalmente, algo que não mudou"...
Não há como deixar de pensar na permanência da instituição escolar, inclusive a universitária, ao longo dos séculos. A disposição dos prédios, das salas, das carteiras... tudo contrário ao bem-estar dos indivíduos que a freqüentam. E se o ambiente é desagradável, só resta a disciplina impositiva como forma de controle... mas finalmente os alunos já não se dobram a ela. Sinal dos tempos?!

[Postagem originalmente publicada no blog Filosofia Cotidiana]

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Richard Rorty (1931-2007)


Há tempos queria postar alguma coisa sobre Richard Rorty, que morreu no dia 08 de junho deste ano. Não consegui produzir esse texto, mas encontrei um artigo que cumprirá essa tarefa muito melhor que qualquer texto que eu pudesse escrever. Rorty, filósofo americano, soube reconstruir o sentido do pragmatismo, essa "filosofia estadunidense" (tantas vezes vista com olhos de desprezo e desconfiança pelos bem pensantes) incorporando o que a tradição mais profunda das 12 colônias tem de melhor e criticando, com ênfase, aquilo que dela derivou em barbárie e provincianismo. Anti-metafísico, anti-fundacionista, Rorty acreditava na plasticidade humana e no imponderável da História: se um futuro brilhante não está e nunca estará garantido, essa opacidade é também a garantia da perfectibilidade e da liberdade.

O Pensamento de Richard Rorty e seu exemplo de vida
Luiz Eduardo Soares

Por ocasião do falecimento de um dos maiores filósofos de nosso tempo, compartilho, em homenagem à sua memória, lembranças e algumas breves reflexões. Tive o privilégio de estudar com Richard Rorty por aproximadamente dois anos, em 1995/6, na Universidade da Virginia, cumprindo meu pós-doutorado em filosofia política. Eu havia encontrado sua obra em um momento de profunda crise pessoal, de natureza política e intelectual. Eu era professor universitário e pesquisador havia já mais de duas décadas e meu caminho me conduziu, no início dos anos 1980, à recusa radical dos dogmatismos. Por outro lado, o relativismo antropológico e filosófico também levava a graves impasses éticos e políticos.

Ou seja, o relativismo era necessário, mas inaceitável. Como compatibilizar o ceticismo cognitivo com compromissos éticos e políticos, sem mergulhar em um subjetivismo arbitrário? Como recusar a metafísica positivista dominante, sem render-se ao irracionalismo, sem renunciar à crítica? Como manter-se fiel ao espírito libertário, herança de minha geração pós-1968, assumindo plenamente as virtudes da democracia, com suas limitações institucionais? Como articular liberdade e justiça?

A obra de Rorty abriu para mim, como para tantos, em todo o mundo, um horizonte extraordinário. Seu pragmatismo liberal-crítico, seu anti-essencialismo libertário, mas dialógico e democrático, mostrou um caminho riquíssimo. Para minha vida pessoal e profissional, foi também decisiva sua aposta na literatura, no cinema, no jornalismo literário, na etnografia como as formas mais potentes na construção de um consenso global mínimo em torno dos valores da paz, da justiça e da liberdade. O século XXI seria a era da construção dialógica de valores a partir da disseminação de empatia humana, para além de fronteiras e nacionalidades.

Nesse contexto, os “Tratados Filosóficos”, que marcaram os últimos três séculos, tenderiam a dar lugar à produção de histórias de vida, capazes de sensibilizar a opinião pública para o sofrimento alheio e mobilizar as sociedades para a única finalidade que vale a pena: reduzir o sofrimento humano. Voltei ao Brasil, em 1997, disposto a retomar o tema da violência, ao qual vinha me dedicando havia cerca de dez anos, mas não mais apenas pela via de pesquisas acadêmicas. Decidi meter a mão na massa e nos vespeiros, aprender com os erros, errar de novo, conviver com os outros, escutar sem julgar, compreender o abjeto, e escrever livros sujos dessa matéria impura e fértil. Rorty esteve presente em tudo o que fiz. Se algo tiver sido útil, que sirva de homenagem à sua memória. De Virginia, onde estive, a Nova Iguaçu, onde estou, corre uma linha sutil que assinala alguma coerência: a inspiração de Rorty.

Dick, como insistia em ser chamado pelos amigos, era uma pessoa surpreendente: de uma simplicidade franciscana e uma generosidade comovente. Quando convivemos, ele já era uma celebridade mundial. Convites choviam de todas as partes do mundo. Ele se mantinha sem afetações, aberto aos questionamentos, leitor voraz, atento aos pequenos detalhes que distinguem a delicadeza nas relações humanas. Na universidade de Virginia, ele não estava lotado em nenhum Departamento. Ele era um Departamento, por assim dizer. Oferecia os seminários que queria, como e quando preferisse. Mesmo assim, trabalhava da manhã à noite, atendendo a quem o procurasse, dando cursos sucessivos, admitindo a demanda mais diversa, sem preconceitos ou restrições elitistas –ainda que não abrisse mão do rigor na reflexão. A liberdade de pensamento contagiava sua prática. Por outro lado, nunca admitiu ter uma secretária ou um auxiliar. Fazia questão de ir, pessoalmente, ao correio e ao banco, enviar a correspondência e pagar as contas.

Seu socialismo libertário e democrático vinha de berço e se manifestava nos pequenos gestos, não só nas grandes idéias. Com seus pais, trotskistas e sindicalistas, aprendera a valorizar o movimento dos trabalhadores. Mas herdaria, da experiência do movimento socialista internacional, o horror ao stalinismo, que se estendia às vertentes que apenas na aparência lhe seriam opostas. Filho único, brilhante e devotado aos livros, saltou por méritos acadêmicos, antes dos vinte anos, dos bairros pobres para as melhores universidades do país. Insistia em se classificar como um liberal, no sentido americano do termo, ou um social-democrata libertário, como às vezes dizia.

Acompanhar seus seminários e visitar sua casa significava conviver com intelectuais de todas as partes do mundo, formados nas mais diferentes disciplinas. Rorty, sempre com sua companheira Mary, cultivava o hábito de enviar dezenas de livros aos amigos pobres da Europa do Leste ou da África, todo mês, às suas próprias custas. Abrigava, por vezes, os estudantes sem recursos em sua casa. Fazia de suas viagens internacionais um meio de incentivar os que lutavam por liberdade e por justiça, escolhendo os convites que mais se adequassem a esses propósitos e jamais aceitava pagamento quando dava palestras em países pobres. Se insistissem em lhe pagar, dava um jeito de repassar o dinheiro a alguma instituição do país. Nem por isso fazia concessão à retórica ideológica fácil.

Digo isso, cometendo talvez uma inconfidência, sublinhando que Rorty seria inteiramente avesso à divulgação dessas posturas pessoais, que ele consideraria matéria estritamente privada, que nada teria a dizer a respeito de sua obra. Além disso, ele nunca foi ingênuo, nem supôs que esse pequeno socialismo privado pudesse substituir a política, arte e prática que ele sempre respeitou, profundamente. Refratário a toda forma de autoritarismo e dogmatismo, recusava os rótulos, sobretudo o de pós-moderno ou relativista, preferindo, provocativamente, identificar-se com a tradição pragmática norte-americana, o que produzia efeito subversivo sobre os mapas filosóficos contemporâneos.

Considerava a democracia liberal de tipo social-democrata superior às ditaduras, mas não acreditava que sua escolha pudesse fundamentar-se exclusivamente na razão, com R maiúsculo, porque as razões são cultural e historicamente moldadas. Essa superioridade teria de ser construída na prática do discurso e da política, no sentido de que demonstrá-la deveria constituir um objetivo a atingir e não um pressuposto a descortinar. Nada menos relativista. Os Direitos Humanos, por exemplo, não são uma exigência da razão ou da natureza humana, mas um projeto a ser construído. Esse ziguezague driblava expectativas e embaralhava classificações.

Quem imaginaria Dewey e Pierce ao lado de Nietzsche, Heidegger e Derrida, em confronto com Kant e a filosofia analítica neo-positivista? Rorty, em sua timidez, em sua sisuda introspecção, foi performático e subversivo, porque, definindo-se como “pragmatista”, herdeiro de Dewey e Pierce, desconcertou certezas que estabeleceram fronteiras entre linhagens filosóficas e políticas. Rorty misturou as linhas, aboliu divisões, redesenhou laços de parentesco filosófico-político, e acabou por derrubar o muro que separava, intelectualmente, os EUA da Europa. Rorty sofria muito com os descaminhos da América de Bush.

Mesmo assim, como Al Gore, recusou-se a colocar em risco a institucionalidade democrática quando se ensaiou, em 2000, um movimento contra o resultado eleitoral e a Suprema Corte, em função da contagem suspeitíssima na Florida, que dera a vitória ao republicano. Para Rorty, os intelectuais liberais e progressistas americanos teriam perdido o rumo quando, no embalo da oposição à guerra do Vietnam e depois de seu fim, aderiram ao anti-americanismo, afastaram-se dos movimentos sociais e da política real, cortaram vínculos com a opinião pública e se enquistaram nas universidades. Nesses guetos luxuosos, longe da sociedade e de suas dinâmicas, a esquerda americana passou a confundir a radicalidade da retórica com engajamento político. Rorty estava convicto de que era preciso voltar a conectar-se com as grandes correntes da opinião americana para retornar à política real, porque apenas aí conquistas sociais, na direção de mais justiça e mais liberdade, seriam possíveis. Por isso, voltou a valorizar o patriotismo americano, justamente para encontrar, nas raízes democráticas de sua tradição, o maior e mais eficaz antídoto ao veneno da era Bush.

Há um aspecto muito interessante no processo que redundou na ruptura de Rorty com o cientificismo da filosofia analítica e com sua redescoberta do pragmatismo norte-americano e da filosofia continental européia. Rorty me contou que se sentia muito mal nos departamentos de filosofia que freqüentou, mesmo sendo tão competentes e celebrados. Sentia-se como que paralisado. Não escrevia. Sobretudo, parecia amortecido, anestesiado, sem imaginação, impotente. As energias se gastavam nas eternas e inúteis disputas bizantinas. Arrogância, onipotência, dogmatismo, autoritarismo pareciam marcar a atmosfera da cultura acadêmica – o avesso dos valores supostamente cultuados nas universidades. O saber que se pretendia mais agudo, verdadeiro e criativo servia a que economia de poder? A que enrijecimento psicológico? A que produção de sofrimento alheio? Nesse momento, seu casamento naufragava e uma Tsunami o arrastou à psicanálise, da qual ele saiu renovado. Outra oportunidade de inventar-se e construir uma identidade e uma história para si mesmo, com outro enredo, outras referências, outro prazer, outras possibilidades. Sempre me pareceu que estava aí a origem do insight mais importante: nós não somos comandados por nossa natureza ou por uma essência qualquer; podemos recriar nossa existência, respeitando condições e limites. A lição vale para o indivíduo e a sociedade. O que somos é contingente; somos finitos, imperfeitos, desnecessários. Por outro lado, essa precariedade é também liberdade e possibilidade de mudança. Podemos ser um projeto que valha a pena. Rorty saiu da psicanálise para outro casamento e uma outra vivência da prática intelectual, aberta, arejada, poliforme, criativa. O amor que viveu com Mary, nesse novo contexto, e as relações com os filhos, com as orquídeas, os pássaros e a literatura, iluminaram sua vida. Ele transformou-se na Tsunami que antes o levara à depressão. Produziu, desde então, muitos livros e um número imenso de artigos. Interveio em mil e um debates. Tornou-se necessário. Indispensável. Não era sua essência, nem seu destino; mas foi sua virtude. Nesse sentido, sua vida parece fundir-se à filosofia pragmatista tal como a reinventou.

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Parte desse artigo, sob a forma de entrevista concedida a Miguel Conde, foi publicada em Prosa e Verso, Caderno cultural de O Globo, em 16 de junho de 2007.

Luiz Eduardo Soares é Antropólogo e Cientista Político, professor da UERJ e da UCAM; ex-secretário nacional de segurança pública e ex-cordenador de segurança, cidadania e justiça do Rio de Janeiro. Co-autor dos livros "Cabeça de Porco", e "Elite da Tropa" pela Editora Objetiva e autor do Livro "Legalidade Libertária" pela Lumen Júris. Atualmente ocupa o cargo de Secretário Municipal de Valorização da Vida e Prevenção da Violência, de Nova Iguaçu.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Encontrando Vida na Morte


O texto a seguir é produto de uma reflexão sobre a Morte e o que ela representa para nós. O professor Lupércio, trabalhando com seus alunos de Ensino Médio do colégio Trevo Master de Santo André, propôs essa produção para organizar as idéias sobre a discussão que englobou o pensamento de Sartre e Heidegger sobre esse assunto. O pequeno texto da aluna Alessandra Cavalcanti Sales mostra como o trabalho pode tocar os alunos e provocar reflexões realmente relevantes para todos os que se questionam sobre a condição humana e, consequentemente, para todos os envolvidos com a Educação.

Morte, palavra envolta em mistério, fascínio, que amedronta o ser humano. A vida toma sentido em nosso “último ato”. Apenas com a sensação de que ela está presente, nossa existência percorre como melodia fúnebre os nossos pensamentos. A morte justifica a vida, sua proximidade é o momento em que vemos tudo o que realizamos, todas as paixões, crenças e medos se esvaecem, é o momento que nos faz ver o quanto valeu, ou não, viver. Na nossa frívola e irônica condição humana - animal, daquela a quem muitos temem e outros desejam, a morte não é nada além da incerteza, o desconhecido e afirmações, fruto da subjetividade.

A administração do Blog agradece carinhosamente a aluna Alessandra pela permissão da publicação de seu texto.

Onde está o cachimbo?


Um exercício de Filosofia com crianças que particularmente gosto é o que envolve obras de arte e suas interpretações. Meu favorito é a pintura de René Magritte, Ceci n'est pas une pipe. Nesta obra Magritte retrata um cachimbo e, em seguida, nomeia sua obra como "Isto não é um cachimbo". A dualidade entre o que é a coisa em si e o que a representa, encontrada em grandes filósofos como Platão e Kant, faz as crianças pensarem muito - e também se divertirem - tentando descobrir: onde está o cachimbo? Bisbilhotando na internet, encontrei uma imagem muito interessante... ora, se a Filosofia é um exercício de "olhar de um outro ponto de vista", por que não começar pela figura abaixo?


A figura é um estereograma, uma imagem para ser vista em 3D. Os que se interessarem , podem testar suas habilidades no link www.educa.aragob.es

E os curiosos que não conhecem a obra do surrealista René Magritte, pode saber um pouco mais no site www.magritte.com

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Obras completas

Aos colegas interessados em conhecer melhor a obra de um dos mais notórios filósofos latino-americanos, convido a visitar o site do IFiL - Instituto de Filosofia da Libertação, sediado em Curitiba. O IFiL disponibiliza, com a devida autorização, a obra completa de Enrique Dussel.
Para conhecer o site do IFiL, clique aqui.
Para acessar a obra de Enrique Dussel, clique aqui.
Boa leitura!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Pra quem serve a Filosofia?

Motivado pela postagem abaixo, da Larissa, me coloquei a pensar em outro aspecto da mesma questão: pra quem serve a Filosofia. Ou mais precisamente, pra quem ela não serve, é prejudicial, um algo a ser eliminado.
É fato que a Filosofia se caracteriza pela postura de estranhamento do cotidiano: o "espantar-se" diante de um fato qualquer marca o início de uma reflexão mais aprofundada, diferente daquela reflexão superficial de quem olha sem espanto para um objeto rotineiro.
Eu, pessoalmente, não compartilho com a idéias de alguns colegas de profissão, que entendem que apenas os iniciados na filosofia são capazes de pensar ou refletir. Acredito que haja uma postura reflexiva mesmo no mais manipulado dos sensos comuns - se não a houvesse, não haveria também a possibilidade de manipulação.
O fato é que a Filosofia chama por uma postura mais aprofundada de reflexão crítica, a qual não interessa àqueles e àquelas que ganham com as incoerências de um sistema político-econômico. Frente a uma população crítica, não existiria tanto espaço para ganhos lícitos e ilícitos que nos espantam (uso o termo "espantam" filosoficamente falando. Eu me espantei ao ver o lucro divulgado pelos grandes bancos, a corrupção sentada na cadeira da presidência do Senado Federal e também ao ver o valor do salário mínimo!).
Da primeira pergunta - a quem não interessa a filosofia - surge uma outra: e eu, estou de que lado nesse jogo de interesses... ?

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Pra que serve a Filosofia?

Hoje me perguntaram: pra que serve a filosofia? E até para quem convive com ela essa pergunta é difícil...Tive que recorrer a dois filósofos muito especiais. Lembrei de um de nossos encontros em que, tentando responder a essa pergunta, o professor Daniel disse que a Filosofia não serve a ninguém, o que mostra sua primeira faceta: a liberdade. Se a Filosofia não servir para nada, ao menos ela nos torna mais livres. E para completar a explicação, lembrei do professor Marcos dizendo que qualquer um ficaria ofendido se lhe fosse perguntado: para que serve sua mãe? Ora, sua me não tem serventia, sua mãe tem valor. Com a Filosofia também é assim... Mas valor é algo subjetivo, particular. O que me leva a concluir que a Filosofia não serve mesmo para muita coisa, a menos que você já tenha sentido através dela o sabor da liberdade... depois disso, ela não precisa mais ter utilidade pois passa a ser valiosa.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Marxistas de plantão

Para quem não conhece, vai a indicação: http://www.marxists.org/portugues/index.htm. É um site que disponibiliza on line diversas obras de Marx e de autores marxistas. Este link conduz diretamente à página das obras em português, mas há muito mais em outros idiomas...

(postagem também publicada em www.pansarelli.blogspot.com)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Crítica e indigestão

É lugar comum ouvirmos de todos os lados as já indiferentes queixas sobre o estado atual da educação básica: a falta de respeito que os alunos demonstram, a indisciplina que tomou lugar na escola (tal qual no sistema carcerário !? !) etc., etc., etc., etc.

Em minha experiência pessoal, a maioria destas queixas apontam como grande mal do mundo educacional atual os dois mesmos pontos: na rede pública, o problema é a "aprovação automática" - versão distorcida e pessimamente aplicada de um dos projetos que Paulo Freire defendia, a "progressão continuada"; nas escolas particulares, o problema geral apontado é o protecionismo das escolas em relação aos alunos, que muitas vezes "desautoriza" o professor; nesta relação, o aluno é cliente, e "o cliente tem sempre a razão".

Não quero avaliar a justeza ou não das queixas feitas; nem avaliar se as causas são realmente estas. Mas frente à situação dada, o que fazer? Entrar num universo de reclamações que apenas joga mais penumbra na realidade escolar não prece ser uma boa alternativa...




Há pelos menos 2 milênios e meio a postura filosófica vem instigando as mais diversas mentes, orientando-as a uma inquietação produtiva, transformando indisciplina em genialidade. É verdade que no geral as "aulas de filosofia", no ensino médio por exemplo, muitas vezes não adotam essa "postura filosófica", a que me refiro (o que é uma pena).

Tenho comigo que a prática e a postura filosófica pode ser elemento de profunda criatividade na prática dos professores, tornando-se ferramente "instigadora" dos alunos. É claro que para para o professor ser capaz de instigar filosoficamente alguém, ele próprio não pode ver a filosofia ou o pensamento crítico em geral como algo indigesto. Na verdade, talvez possa até ser saboroso!

Então... vai encarar?


A tirinha acima foi publicada hoje, na Folha de S. Paulo