sexta-feira, 20 de julho de 2007
domingo, 15 de julho de 2007
Leitura
Esses dias uma amiga que tem um filho de 6 meses estava comentando que não queria que seu filho ficasse "viciado" em televisão, que gostaria que ele se interessasse mais por livros. Ela me perguntou como deveria fazer para que isso ocorresse. Respondi que ela deveria fazer o livro ser mais interessante que a televisão, ou seja, todas as vezes que ela fosse colocar seu filho na frente da televisão que ela lesse um livrinho para ele, habituando-o, assim, aos livros. Quem passa um tempo com as crianças pequenas como esse bebê sabe o quão difícil isso é. A televisão é realmente tentadora (até para nós). Ela nos dá o máximo de entretenimento pelo mínimo de esforço, o que na nossa sociedade pode ser até entendido como um "lucro". O que seria perfeito, então, seria que a programação da televisão , principalmente da televisão aberta, fosse muito bem pensada de forma a educar seus telespectadores . Mas é claro que isso, por muitos motivos, não acontece. Então mães como minha amiga têm uma tarefa difícil: vencer o óbvio e fácil em prol da educação de seus filhos. Levando em conta que são poucas as mães que podem ficar com seus filhos o tempo todo e que a demanda de crianças de 0 a 3 anos na escola cresce a cada ano, essa responsabilidade passa também a ser da escola. E aí temos um problema maior. Apesar de ter sua função mais que essencial na educação de seus filhos, as mães não são profissionais da educação. Quando a criança chega na escola é esperado que sejam bem educadas e formadas. E como fazer isso? Disse a minha amiga que se ela não se interessasse por livros não conseguiria fazer seu filho se interessar, visto que o meio que a criança vive é importante para sua formação. Agora me pergunto: os professores gostam de ler? Ou são como a maioria que chega em casa e liga a televisão? Se assim o é, como fazer com que nossas crianças se interessem por livros se nós mesmos educadores não lemos? Para colaborar com esse problema as escolas estão preocupadas apenas com a alfabetização e não com a qualidade do que seus alunos irão ler. E pior, ensinam apenas as letras, e não a leitura, seja dos códigos escritos ou das ideologias presentes nas novelas. Isso já foi dito muitas vezes, mas será que entendemos o que é ler o mundo? E nesse ponto, a filosofia tem a acrescentar quando, diante de uma leitura desse mundo que apresentamos às crianças, elas, com toda ingenuidade e admiração, que perdemos com o tempo (e também com a televisão), nos perguntam: por quê?
terça-feira, 10 de julho de 2007
"Ensinar Filosofia"
A idéia de se "ensinar filosofia" para crianças pode parecer estranha ou mesmo absurda para muita gente. E, de fato, é uma idéia absurda, mesmo. Não se ensina filosofia para ninguém, muito menos para crianças, que têm coisas mais importantes e divertidas a fazer. O papel da Filosofia, quando a palavra aparecer na mesma frase em que encontrarmos as palavras "crianças" ou "jovens", deve ser compreendido de modo a não ignorar sua história: desde que os homens passaram a se perguntar sobre a origem e o sentido de coisas aparentemente já explicadas (em contraste com o que afirmava a tradição) o exercício da dúvida e da inquirição tornou-se a marca mais visível do que passamos a chamar de philosophía. Filosofar com crianças ou jovens pode ser, assim, a prática, em sala de aula, de um certo estilo de pensamento, marcado por uma indagação radical acerca dos dados imediatos e cotidianos que cercam cada um de nós. Antes de um conteúdo a ser ministrado, temos uma prática a ser exercida. E mostrar como se colocar a caminho em um pensamento que pergunta pode ser uma contribuição importante da Filosofia à educação dos mais novos - e também de seus professores.
domingo, 1 de julho de 2007
Mais Descartes...
Nós, do NEFiC, planejamos nosso trabalho através de nossa experiência em sala de aula com as crianças e com os jovens. Construímos nossas oficinas e nossa prática com essa vivência, mas mantemos também um grupo de discussão e estudo dos autores da Filosofia e da Educação que nos permitem uma interpretação para a reflexão em sala de aula. Em uma dessas discussões tivemos a oportunidade de analisar o Discurso do Método de René Descartes, especialmente a parte em que este constrói a teoria do cógito. Quando Descartes propõe-se a duvidar de todas as coisas para encontrar uma única verdade que seja, ele acaba por entender que se pode duvidar é porque pensa e se pensa, logo, existe. Alguns teóricos hoje afirmam que a teoria de Descartes não é válida, mas pensemos no que ela pode acrescentar ao professor, em especial aqueles que se dedicam a fazer seus alunos pensarem. Se a Filosofia nasce do espanto, como dizia Platão, não podemos deixar de nos maravilharmos (e também nos horrorizarmos) com a vida e com seus caminhos. Nisso Descartes deixa uma lição importante: duvidem, questionem, não aceitem qualquer resposta. Quando pudermos dizer que nossos alunos pensam assim (inclusive do que nós mesmos dizemos em sala...) poderemos de fato dizer que formamos para a liberdade. Ainda que Descartes esteja errado, uma coisa é válida: devemos usar nossa capacidade de pensar para tornar nossa existência o mais interessante possível. Como? Duvidando...