segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Filosofia e Educação

Sábado passado ministrei um curso com o tema Ética e disciplina na sala de aulas, voltado especialmente para professores e professoras da rede pública de ensino. Foi a segunda vez em que repeti uma mesma estratégia: comecei o curso apresentando a visão de Kant sobre a disciplina necessária ao processo educativo, pautando-me em seu livro Sobre a pedagogia.
O modelo proposto por Kant supõe uma educação centrada na disciplina como elemento fundamental: se não houver disciplina, não há possibilidade de educação.
Ao expor as idéias kantianas sobre o assunto, perfeitamente adequadas ao seu tempo histórico, pude constatar uma vez mais que a escola atual ainda se pauta nos valores iluministas dos mil-e-setecentos. É incrível observar como ainda predomina na instituição escolar um modelo que prima pela imposição da disciplina como forma de controle.
Isso me faz lembrar uma piada muito contada nos meios filosóficos: dizem que um sujeito que vivia na Idade Média, certa vez, deparou-se com uma máquina do tempo e a utilizou para vir aos nossos dias, em pleno Século XXI. Contam que o sujeito ficou aterrorizado ao ver o trânsito e os imensos prédios, e correu para uma igreja; lá, encontrou uma celebração carismática (coisa que levaria alguém à fogueira na era medieval!) e correu desesperadamente, buscando encontrar algo que não lhe parecesse absurdo. Então entrou numa escola e pensou: "finalmente, algo que não mudou"...
Não há como deixar de pensar na permanência da instituição escolar, inclusive a universitária, ao longo dos séculos. A disposição dos prédios, das salas, das carteiras... tudo contrário ao bem-estar dos indivíduos que a freqüentam. E se o ambiente é desagradável, só resta a disciplina impositiva como forma de controle... mas finalmente os alunos já não se dobram a ela. Sinal dos tempos?!

[Postagem originalmente publicada no blog Filosofia Cotidiana]

Um comentário:

Larissa disse...

Agora que finalmente os alunos não se curvam à disciplina imposta, só resta uma pergunta aos professores: o que fazer? E isso não é só perturbador pessoalmente, como socialmente. Será que teremos algum progresso se formos esperar cada professora reinventar a educação? E será que teremos sucesso se tivermos uma nova diretriz, um novo caminho a seguir? Já está claro que o caminho que seguimos desde a Idadee Média não é mais adequado... mas qual é? Perceber que estamos no caminho errado já é uma grande coisa... mas a educação ainda precisa saber para onde caminhar...