quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Reprensar a educação

É sempre espantoso (no sentido filosófico) observar como somos capazes ver coisas diferentes em um mesmo objeto, dependendo do "lugar" de onde olhamos. Lembro-me de como eu via a Universidade quando era aluno - e me esforço por manter, ao menos em parte, aquele modo de olhar. Naqueles momentos, eu nem imaginava os imensos debates que se travam em seu interior, na tentativa de se estabelecer as bases para uma mudança mais significativa nos processo de ensino.

Questões simples, como a necessidade da Universidade ensinar (não é a universidade quem ensina, mas...) coisas efetivamente importantes à vida das pessoas que nelas aprendem - e, acredito, todos apendem quando circulam pela Universidade - são tratadas com extrema dificuldade, provavelmente em função de toda a tradição universitária consolidada ao longo de séculos.
Talvez por ser minha praia, vejo esta situação de forma ainda mais problemática quando lidamos com licenciaturas: muitas vezes a forma tradicional com que nós, professores, aprendemos é a forma como ensinamos os alunos que, em breve, estarão ensinando nas escolas de educação básica. E chegando neste nível, na educação básica, a diferença entre a tradição cristalizada e conteudista e a realidade vivida pelos estudantes se torna uma barreira muitas vezes impeditiva de se estabelecer a própria comunicação. É isso que vivi quando eu lecionava para o Ensino Médio, e também o que tenho ouvido nos relatos de muitos professores da educação básica: parece que o que os professores falam, não é entendido pelos alunos. Parece não, é!
Mas, por outro lado, não se pode negar o considerável acesso à informação de que dispõem os jovens de hoje. Internet, rádios e televisões, mídia impressa, publicidades diversas etc., etc., etc. Talvez (e isso é uma hipótese) o problema da educação não esteja tão centrado no despreparo dos estudantes, tal como eu tenho ouvido repetidamente ao longo dos últimos anos, mas numa falta de sintonia entre "ensinantes" e estudantes. Numa palavra, talvez falte romper os limites da tradição para ouvir o que o outro tem a dizer.

[Postagem originalmente publicada no blog Filosofia Cotidiana]

Nenhum comentário: